Foto: Arquivo Pessoal
A artista plástica Mariza Carpes, 69 anos, formou-se em Bacharelado em Artes Decorativas e Licenciatura em Desenho e Plástica, em 1973, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Ela concluiu o mestrado na Ball State University, no Estado de Indiana, Estados Unidos, em 1995. Mãe de Affonso Barros Filho, 47 anos, e Gustavo Carpes Barros, 45, há 30 anos, mora na Capital gaúcha, no Bairro Vila Assunção, zona sul da cidade. Lá, cultiva jardim e horta e, também, mantém seu estúdio de produção. O local foi tema da exposição individual: a casa, no StudioClio em Porto Alegre.
Confira, na integra, a entrevista com Mariza, que conta sobre os processos criativos e a importância de ter estudado em uma das maiores instituições federais do Sul do país.
Diário - Para a senhora, como foi ingressar em uma universidade federal, no curso de Artes. O fato de ser mulher influenciou na escolha?
Mariza Carpes - Artes visuais, para mim, foi uma escolha natural e uma certeza. Aos 9 anos, desenhei um Pinóquio, quando li a história. Foi quando minha mãe, Ivone Carpes, 96 anos, teria comentado com meu pai, Byron Carpes (falecido em 2014), que eu seria uma artista. Isso ficou no histórico familiar. O fato de ser mulher não significou nada para essa decisão. Creio que, talvez, para os homens, tenha sido complicado, devido à fraca aceitação da área. Para mim, a mulher tem capacidade de ser o que quiser, está à altura para enfrentar qualquer desafio.
Foto: Arquivo Pessoal
Um dos quadros da exposição "A Casa", a qual retrata a moradia de Mariza. O quadro mede 42cmX42cm. Tem como suporte fibra de vidro, cimento e pedaços de pedra Caxambu
Diário - Conte um pouco sobre seus processos criativos...
Mariza - Tenho no desenho um amor muito grande: especialmente a figura humana. É um assunto que me fascina. Mas também gosto da pintura, meu foco no mestrado. Minha meta é a liberdade de produzir sem rótulos. E digo isso, não somente por ser uma conquista da contemporaneidade, mas por eu estar numa idade que, se não realizar o que desejo agora, será tarde demais. Quando produzo minha arte, sinto profundamente estar no lugar certo, na hora certa. É o que me completa como ser humano, é o que mais me define.
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Diário - Onde a senhora já expôs sua arte e qual desses locais lhe chamou mais a atenção?
Mariza - Por anos, e através de salões de arte, meu trabalho percorreu diversos Estados brasileiros. Hoje, está em acervos de muitos museus. Estudei nos Estados Unidos, onde fui por mais de quatro vezes premiada. Uma grande surpresa. Lá, a premiação é dada na abertura do salão. Uma delas aconteceu no Minnetrista Museum, em Indiana, numa competição que tinha abrangência nacional. Eu havia chegado há apenas algumas semanas, fiz um trabalho sobre simples papel pardo com montagem emprestada pela minha orientadora. Meu nome foi anunciado como primeiro prêmio e a pronúncia dos americanos me deixou em dúvida por alguns segundos. Talvez, este momento, tenha sido o que mais me chamou a atenção ou o que realmente me surpreendeu.
Foto: Arquivo Pessoal
Painéis que irão para a próxima exposição de Mariza Carpes
Diário - Qual a importância de Santa Maria em sua formação pessoal e acadêmica?
Mariza - A nossa universidade sempre foi uma das melhores em vários cursos. O de Artes Visuais não é exceção. Tive ótimos professores e excelente formação. Posso acrescentar que também fiz a minha parte ao procurar fora de Santa Maria experiências que me abriram a mente à crítica e ao rigor da valorização da profissão. Com Iberê Camargo, aprendi muito, ele foi um marco divisório na minha trajetória.
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Diário - Por que decidiu seguir a vida de docente e por quanto tempo ficou lecionando na UFSM? Deu aula em mais alguma instituição?
Mariza - A decisão veio naturalmente. Sempre gostei de lecionar, de estar cercada por jovens. Eles nos renovam e nos ensinam. Lecionei, por 12 anos, no Centro de Artes e Letras, da UFSM onde tive alunos inesquecíveis, como Lucia Isaia e, mais tarde, no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também criei um espaço cultural chamado Casa 26 - Equipe de Artes, que funcionou como galeria de arte e escola até minha volta aos Estados Unidos, quando fui convidada pela Ball State University a dar aulas sobre a cultura brasileira.
Foto: Germano Rorato (17/10/2012)
Exposição "Nem a Terra, Nem o Céu, Justamente o Meio", de Mariza Carpes, em 2012
Diário - Qual a comparação que a senhora faz entre o cenário artístico de antes e o atual?
Mariza - Ter quase 70 anos permite uma longa experiência. Comento sempre que venho de um tempo em que fazíamos tudo, desde o catálogo de uma exposição, até a seleção de obras, iluminação, texto e etc. Hoje há uma exigência natural da existência de curadores, fotógrafos, designers, montadores, críticos, iluminadores e mesmo relações públicas. Estou me adaptando. Ainda acho estranho, mas aceito como um ganho para os artistas. Para a próxima exposição, minha curadora é a Paula Ramos.
Diário - O que você diria para os artistas plásticos que estão iniciando?
Mariza - Faça tudo com amor e paixão. Saia da sua zona de conforto, aposte em obras inquietantes! O caminho é árduo e, portanto, exige certezas. Vai precisar de muito trabalho, muito suor, muitas horas de prática e leitura. Acredite no que fazes. Descubra no teu trabalho o que somente você pode dizer: a sua verdade, a sua história, que sempre será única. E, para completar com Fernando Pessoa: "Te tornarás só quem tu sempre foste. O que os deuses te dão, dão no começo".
Colaborou Natália Venturini